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Cordelista Olegário Fernandes
14/10/2021 01:01 em Coluna do Cordel

CORDELISTA OLEGÁRIO FERNANDES DA SILVA (29.03.1932 a 03.04.2002)

 Autor: Ivaldo Batista

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Caruaru fique atento

Pra poder me escutar

Sobre um grande poeta

Agora eu quero falar

Sobre teu ilustre filho 

O mundo viu o seu brilho

Na cultura popular.

 

Ele nasceu nesta terra

Foi trabalhador agrário

O cordel lhe convocou

Pra o mundo literário

No mês que se planta milho

Foi que nasceu o teu filho

Seu nome é Olegário. 

 

Do Sítio Jacaré Grande

Pras bandas do Rafael

Vem a lembrança do homem

Semente de menestrel

Foi neste chão que brotou

Caruaru nos doou

Um gigante do cordel.

 

Em vinte e nove de três

No ano de trinta e dois (1932)

Nascia Seu Olegário

Fernandes da Silva, apois 

Qual dom que Deus lhe dará

Do que se ocupará

A gente vai vê depois.

 

É seu Manoel Fernandes

Da Silva seu genitor

Dona Maria Fernandes

Da Silva, sua mãe flor

Imaginem o cenário

Onde nasceu Olegário

Com sina de agricultor.

 

Era difícil demais

A vida lá pela roça

A enxada companheira

Que a sua mão destroça 

Da infância a juventude

Olegário não se ilude

A poesia o remoça. 

 

Ele lidava com a terra

Muito nela labutou

Mas sempre vinha pra feira

Aos pais sempre acompanhou

Foram rodas de violas

Que se tornaram escolas

Onde o garoto estudou.

 

Sem a escola formal

Onde aprender A B C

O folheto virou livro

Ele assim pode ver

Foi este o abecedário

Do poeta Olegário 

Onde aprendeu a ler.

 

Ele andava na feira

Feito garoto esperto

E ouvia os Cordelistas

Que estavam ali por perto

Perdia-se dos seus pais

Que nem corriam atrás 

Seu paradeiro era certo. 

 

Com vinte anos de idade

O seu destino mudou

Passou a vender cordéis

E nessa área ficou 

Vendendo ele aprendeu

O cordel lhe socorreu

Como poeta vingou.

 

Ele aos vinte e dois anos

Consolida sua sina

Fez o primeiro cordel

O tema: “O Boi de Minas

E as carnes contaminadas”

Pessoas desconfiadas

Com a tal carne bovina.

 

O tema androginia 

Neste cordel abordado

A mulher virava homem

Homem era transformado 

Era assim que se dizia

Dessa carne quem comia

Passava pra o outro lado.

 

Seu Olegário Fernandes

Foi repórter cordelista

Nesse tempo assumia

O papel do jornalista

Ele dava a notícia 

Podia ser natalícia

Até desastre na pista.

 

Lembro aqui um cordel 

Pra que você não esqueça

Olegário escreveu

Por incrível que pareça

De uma mãe e seu destino

Que deu luz a um menino

Nato com duas cabeças.

 

Esse cordel foi sucesso

Por aí foi espalhado

Segundo dados antigos

Que nós temos confirmado

Foi vendido no Brasil

Uns cinqüenta e dois mil

E ainda é procurado.

 

Ele aos vinte e seis anos

Vivendo suas andanças

Em muitas terras andou

De uma, trago lembranças

São Caetano da Raposa 

Lá conheceu sua esposa

Usaram as alianças.

 

Ele vendia cordéis

Na feira feito missão 

Uma mocinha do sitio 

Ali na ocasião 

Do poeta não duvide

Conquistou a Alaíde

Maria da Conceição.

 

Ela de Campina Grande

Em São Caetano morava

Quando ia para feira

Eu não sei quem paquerava

Alaíde e Olegário

Feito peixe e aquário

Tudo assim combinava.

 

Nove anos esse dois  

Em São Caetano ficaram

Casados e trabalhando

Logo depois se mudaram 

Caruaru foi destino

No torrão de Vitalino 

Felizes eles moraram. 

 

Os dois eram muito unidos

Ele entendendo ela 

Ela apoiando ele

Feito testo e panela 

Alaíde e Olegário

Do casal não tinha páreo

Foi uma união bela.

 

Desse casório nasceu

Os filhos que cito aqui

Um é Olegário filho

De mulher, teve Ineci 

Betânia e Iracema 

Pra completar o poema

Tem a saudosa Iraci.

 

Na morte de Ludugero

Seu Olegário faria

Um cordel noticiando 

Saiu da tipografia

Direto de São Caetano

Era setenta o ano (1970)

Essa manchete corria.

 

Muita gente ainda lembra

E por aí se comenta

Um cordel que ele fez

Que na poesia arrebenta

Olegário nos contou

De um homem que trocou

A mulher pela jumenta.

 

“A morte da minha sogra”

Foi outro cordel escrito

Muitos romances que fez

O povo achando bonito

Que saudade das pelejas

Nas histórias sertanejas

Olegário eu ressuscito. 

 

A maior parte da vida

Ele lidou com cordéis

Foi quase cinqüenta anos

Imprimindo os papéis

Caruaru lhe deu asa

Foi aqui a sua casa

Matriz desses menestréis.

 

Pra imprimir seus cordéis

Divanilson ajudava

O poeta Olegário

Com afinco trabalhava

No tempo aqui eu entrego

As lentes de Antônio Prego

É quem lhe fotografava.

 

Ainda lembro um local

Na Rua Sebastião 

Trezentos e dezenove

Era a localização

Na loja três lá havia 

A sua papelaria

Que era o seu “ganha pão”.

 

Lembrei de outra barraca

Parecia devoção

Quem não lembra o local

Ficava ali no oitão 

Quem sabe disso endossa

Perto da Igreja Nossa

Senhora da Conceição.

 

O cordel frutificou

E serviu de alimento

A família de Olegário

Viu aí seu provimento

Sustentou mulher e filhos

Manteve todos nos trilhos

A arte lhe deu sustento.

 

Muitas pessoas compravam

E vendiam seus folhetos

Lembro Caetano Saúba

Cordéis foram amuletos

Não importa o fraco ou forte

O cordel trouxe foi sorte

Pra pardos, brancos e pretos.

 

Mas o seu maior legado

Onde atinge alto posto

Foi quando em Noventa e nove (1999)

Em 21 de agosto

Olegário renasceu

Quando criou o Museu

E o povo tomou gosto.

 

Êita cordelista andejo

Na vida um viajante

São Severino dos Ramos

Viu Olegário importante

Esteve no Juazeiro

Do Norte, tal qual romeiro

Feito cordel num barbante.

 

 

Em vinte e nove de março

A gente dava audiência

Pra Jaciara Fernandes

Que com grande competência

Pela Rádio Liberdade 

Dava oportunidade

Ao mestre por excelência.

 

Entrevistando Olegário

Ai nessa ocasião

Que saudade do poeta

Foi última aparição

Setenta anos de idade

Seguiu pra eternidade

Deus lhe estendeu a mão.

 

Contando em minha mão

Da entrevista que deu

Passaram-se cinco dias

E o poeta morreu

Sem brilho o dia é fosco

O corpo foi pro Dom Bosco

A alma Deus acolheu.

 

O cordel sentiu a baixa

Mas vive e segue em paz

A poesia encantada

Muita falta ainda faz

Lembro de uma entrevista

Dada pelo Cordelista

Ao Senhor Ivan Ferraz

 

 

A Fundação de Cultura

De Caruaru chegou

Nesse momento difícil

Muita ajuda prestou

A família agradece

Nessa ação reconhece

O apoio que ganhou.

 

Deixou Olegário o mundo

Foi vítima de um enfarte

A “caetana” de Ariano

Da nossa vida faz parte

Nosso poeta brilhante

Foi ver Lídio Cavalcante

Pra no céu fazerem arte.

 

No enterro de Olegário

Houve choro e alegria

Os violeiros cantando

Nessa linda cantoria

Tapeavam nossas dores

No caixão até as flores

Consolavam a poesia.

 

Registro aqui o fato

No dia três de abril

No ano dois mil e dois

Tempo da “Estudantil”

Data em que ele Morreu

Mas por meio do museu

É presença no Brasil.

 

Olegário lá no céu

Reservou uma cadeira

Há 20 meses chamou

O nosso Paulo Pereira

“Poeta dos passarinhos”

Sentados os dois vizinhos

De cima olham pra feira.

 

Já fez vinte e dois anos

Do Museu, a entidade

Logo teremos a festa

90 anos de idade

De Olegário Fernandes

Um desses poetas grandes

Ao cordel deu qualidade.

 

Se eu lutar no Japão

E vencê-los no judô

Se ganhar no Caratê  

Na China quando eu for

No cordel tendo o viés

Olegário aos teus pés 

Eu num chego seu doutor. 

 

O nome deste Museu

Lembrado aqui eu abono

Dum balaio de poesia 

De cordel ele foi dono

Na arte ele é lendário

Obrigado Olegário

Fernandes, nosso patrono.

 

Cordel é cultura viva

Pra feira e seus feirantes

O Museu tem sua história

Uma das mais relevantes

Brilhante e triunfal 

O cordel tradicional

Tem muitos fãs e amantes.  

 

É Olegário Fernandes

Da Silva um expoente

É cultura do cordel

A paixão da nossa gente

No cenário mundial

Desse cordel imortal

Caruaru é potente.

 

Aqui vou me despedir

Grato pela paciência

Que a vida do poeta 

Traga como conseqüência

A consciência ajude

Pra que nossa juventude

Tenha essa referência. 

 

 “Eu tenho setenta anos

Nesta vida nua e crua

À noite eu fico em casa

O dia passo na rua

E a morte convidando

Pra nós dois morar na lua”.

Estrofe do poeta Olegário Fernandes da Silva em entrevista a jornalista Jaciara Fernandes no Programa da Rádio Liberdade de Caruaru em 29.03.2002. 

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