CORDELISTA OLEGÁRIO FERNANDES DA SILVA (29.03.1932 a 03.04.2002)
Autor: Ivaldo Batista
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Caruaru fique atento
Pra poder me escutar
Sobre um grande poeta
Agora eu quero falar
Sobre teu ilustre filho
O mundo viu o seu brilho
Na cultura popular.
Ele nasceu nesta terra
Foi trabalhador agrário
O cordel lhe convocou
Pra o mundo literário
No mês que se planta milho
Foi que nasceu o teu filho
Seu nome é Olegário.
Do Sítio Jacaré Grande
Pras bandas do Rafael
Vem a lembrança do homem
Semente de menestrel
Foi neste chão que brotou
Caruaru nos doou
Um gigante do cordel.
Em vinte e nove de três
No ano de trinta e dois (1932)
Nascia Seu Olegário
Fernandes da Silva, apois
Qual dom que Deus lhe dará
Do que se ocupará
A gente vai vê depois.
É seu Manoel Fernandes
Da Silva seu genitor
Dona Maria Fernandes
Da Silva, sua mãe flor
Imaginem o cenário
Onde nasceu Olegário
Com sina de agricultor.
Era difícil demais
A vida lá pela roça
A enxada companheira
Que a sua mão destroça
Da infância a juventude
Olegário não se ilude
A poesia o remoça.
Ele lidava com a terra
Muito nela labutou
Mas sempre vinha pra feira
Aos pais sempre acompanhou
Foram rodas de violas
Que se tornaram escolas
Onde o garoto estudou.
Sem a escola formal
Onde aprender A B C
O folheto virou livro
Ele assim pode ver
Foi este o abecedário
Do poeta Olegário
Onde aprendeu a ler.
Ele andava na feira
Feito garoto esperto
E ouvia os Cordelistas
Que estavam ali por perto
Perdia-se dos seus pais
Que nem corriam atrás
Seu paradeiro era certo.
Com vinte anos de idade
O seu destino mudou
Passou a vender cordéis
E nessa área ficou
Vendendo ele aprendeu
O cordel lhe socorreu
Como poeta vingou.
Ele aos vinte e dois anos
Consolida sua sina
Fez o primeiro cordel
O tema: “O Boi de Minas
E as carnes contaminadas”
Pessoas desconfiadas
Com a tal carne bovina.
O tema androginia
Neste cordel abordado
A mulher virava homem
Homem era transformado
Era assim que se dizia
Dessa carne quem comia
Passava pra o outro lado.
Seu Olegário Fernandes
Foi repórter cordelista
Nesse tempo assumia
O papel do jornalista
Ele dava a notícia
Podia ser natalícia
Até desastre na pista.
Lembro aqui um cordel
Pra que você não esqueça
Olegário escreveu
Por incrível que pareça
De uma mãe e seu destino
Que deu luz a um menino
Nato com duas cabeças.
Esse cordel foi sucesso
Por aí foi espalhado
Segundo dados antigos
Que nós temos confirmado
Foi vendido no Brasil
Uns cinqüenta e dois mil
E ainda é procurado.
Ele aos vinte e seis anos
Vivendo suas andanças
Em muitas terras andou
De uma, trago lembranças
São Caetano da Raposa
Lá conheceu sua esposa
Usaram as alianças.
Ele vendia cordéis
Na feira feito missão
Uma mocinha do sitio
Ali na ocasião
Do poeta não duvide
Conquistou a Alaíde
Maria da Conceição.
Ela de Campina Grande
Em São Caetano morava
Quando ia para feira
Eu não sei quem paquerava
Alaíde e Olegário
Feito peixe e aquário
Tudo assim combinava.
Nove anos esse dois
Em São Caetano ficaram
Casados e trabalhando
Logo depois se mudaram
Caruaru foi destino
No torrão de Vitalino
Felizes eles moraram.
Os dois eram muito unidos
Ele entendendo ela
Ela apoiando ele
Feito testo e panela
Alaíde e Olegário
Do casal não tinha páreo
Foi uma união bela.
Desse casório nasceu
Os filhos que cito aqui
Um é Olegário filho
De mulher, teve Ineci
Betânia e Iracema
Pra completar o poema
Tem a saudosa Iraci.
Na morte de Ludugero
Seu Olegário faria
Um cordel noticiando
Saiu da tipografia
Direto de São Caetano
Era setenta o ano (1970)
Essa manchete corria.
Muita gente ainda lembra
E por aí se comenta
Um cordel que ele fez
Que na poesia arrebenta
Olegário nos contou
De um homem que trocou
A mulher pela jumenta.
“A morte da minha sogra”
Foi outro cordel escrito
Muitos romances que fez
O povo achando bonito
Que saudade das pelejas
Nas histórias sertanejas
Olegário eu ressuscito.
A maior parte da vida
Ele lidou com cordéis
Foi quase cinqüenta anos
Imprimindo os papéis
Caruaru lhe deu asa
Foi aqui a sua casa
Matriz desses menestréis.
Pra imprimir seus cordéis
Divanilson ajudava
O poeta Olegário
Com afinco trabalhava
No tempo aqui eu entrego
As lentes de Antônio Prego
É quem lhe fotografava.
Ainda lembro um local
Na Rua Sebastião
Trezentos e dezenove
Era a localização
Na loja três lá havia
A sua papelaria
Que era o seu “ganha pão”.
Lembrei de outra barraca
Parecia devoção
Quem não lembra o local
Ficava ali no oitão
Quem sabe disso endossa
Perto da Igreja Nossa
Senhora da Conceição.
O cordel frutificou
E serviu de alimento
A família de Olegário
Viu aí seu provimento
Sustentou mulher e filhos
Manteve todos nos trilhos
A arte lhe deu sustento.
Muitas pessoas compravam
E vendiam seus folhetos
Lembro Caetano Saúba
Cordéis foram amuletos
Não importa o fraco ou forte
O cordel trouxe foi sorte
Pra pardos, brancos e pretos.
Mas o seu maior legado
Onde atinge alto posto
Foi quando em Noventa e nove (1999)
Em 21 de agosto
Olegário renasceu
Quando criou o Museu
E o povo tomou gosto.
Êita cordelista andejo
Na vida um viajante
São Severino dos Ramos
Viu Olegário importante
Esteve no Juazeiro
Do Norte, tal qual romeiro
Feito cordel num barbante.
Em vinte e nove de março
A gente dava audiência
Pra Jaciara Fernandes
Que com grande competência
Pela Rádio Liberdade
Dava oportunidade
Ao mestre por excelência.
Entrevistando Olegário
Ai nessa ocasião
Que saudade do poeta
Foi última aparição
Setenta anos de idade
Seguiu pra eternidade
Deus lhe estendeu a mão.
Contando em minha mão
Da entrevista que deu
Passaram-se cinco dias
E o poeta morreu
Sem brilho o dia é fosco
O corpo foi pro Dom Bosco
A alma Deus acolheu.
O cordel sentiu a baixa
Mas vive e segue em paz
A poesia encantada
Muita falta ainda faz
Lembro de uma entrevista
Dada pelo Cordelista
Ao Senhor Ivan Ferraz
A Fundação de Cultura
De Caruaru chegou
Nesse momento difícil
Muita ajuda prestou
A família agradece
Nessa ação reconhece
O apoio que ganhou.
Deixou Olegário o mundo
Foi vítima de um enfarte
A “caetana” de Ariano
Da nossa vida faz parte
Nosso poeta brilhante
Foi ver Lídio Cavalcante
Pra no céu fazerem arte.
No enterro de Olegário
Houve choro e alegria
Os violeiros cantando
Nessa linda cantoria
Tapeavam nossas dores
No caixão até as flores
Consolavam a poesia.
Registro aqui o fato
No dia três de abril
No ano dois mil e dois
Tempo da “Estudantil”
Data em que ele Morreu
Mas por meio do museu
É presença no Brasil.
Olegário lá no céu
Reservou uma cadeira
Há 20 meses chamou
O nosso Paulo Pereira
“Poeta dos passarinhos”
Sentados os dois vizinhos
De cima olham pra feira.
Já fez vinte e dois anos
Do Museu, a entidade
Logo teremos a festa
90 anos de idade
De Olegário Fernandes
Um desses poetas grandes
Ao cordel deu qualidade.
Se eu lutar no Japão
E vencê-los no judô
Se ganhar no Caratê
Na China quando eu for
No cordel tendo o viés
Olegário aos teus pés
Eu num chego seu doutor.
O nome deste Museu
Lembrado aqui eu abono
Dum balaio de poesia
De cordel ele foi dono
Na arte ele é lendário
Obrigado Olegário
Fernandes, nosso patrono.
Cordel é cultura viva
Pra feira e seus feirantes
O Museu tem sua história
Uma das mais relevantes
Brilhante e triunfal
O cordel tradicional
Tem muitos fãs e amantes.
É Olegário Fernandes
Da Silva um expoente
É cultura do cordel
A paixão da nossa gente
No cenário mundial
Desse cordel imortal
Caruaru é potente.
Aqui vou me despedir
Grato pela paciência
Que a vida do poeta
Traga como conseqüência
A consciência ajude
Pra que nossa juventude
Tenha essa referência.
“Eu tenho setenta anos
Nesta vida nua e crua
À noite eu fico em casa
O dia passo na rua
E a morte convidando
Pra nós dois morar na lua”.
Estrofe do poeta Olegário Fernandes da Silva em entrevista a jornalista Jaciara Fernandes no Programa da Rádio Liberdade de Caruaru em 29.03.2002.